terça-feira, 30 de outubro de 2007

Tropa de Elite

Quando termina a projeção de Tropa de Elite, de José Padilha, fica-se com duas sensações: primeiro, o trabalho é um marco no cinema brasileiro; pela primeira vez um filme sobre a violência é narrado pelo ponto de vista dos policiais. Segundo, vivemos em um país violento, e não temos para onde correr! O filme tem esquentado os debates sobre segurança pública. Mas pouco se falou dos méritos cinematográficos.

A história é narrada pelo Capitão Nascimento (Wagner Moura). Ele quer sair do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especial, a tropa de elite do título), por causa do nascimento do seu filho. Ao mesmo tempo em que ele deve comandar uma operação no Morro do Turano, buscará um substituto para o seu cargo. Neto e Matias são suas opções. Para ele, o ideal seria ter a valentia de Neto (Caio Junqueira) e a inteligência de Matias (André Ramiro).

A direção optou por uma narrativa em primeira pessoa. Os fatos são intercalados com comentários do Capitão Nascimento. Desde o início, o espectador toma contato com uma filosofia sem floreios, que nega qualquer forma de retórica. Capitão Nascimento é um herói-vilão embrutecido pela violência, sofre dos nervos, e procura um substituto para sair do Bope poder criar seu filho. Ele tem a exata noção das causas da violência: uma polícia corrupta, bandidos com um poder descomunal e que pouco se importam com a população que vive no morro e uma classe média que se sente como dona da verdade, mas financia o tráfico com o uso de drogas para o "lazer"!

Wagner Moura encarna perfeitamente esse cruzamento de herói e vilão, que odeia policiais corruptos, que quer matar a classe média que faz campanhas contra a violência, mas compra drogas dos traficantes e não se intimida em usar a tortura para obter confissão. Totalmente politicamente incorreto; um personagem real, repleto de contradições; os espectadores torcem por ele, assim como torcem por Jack Bauer. O Capitão Nascimento é um Jack Bauer que fala português, ganha em reais, e traduz "shit" corretamente!

O trabalho de José Padilha causou polêmica antes mesmo de entrar em cartaz. Além de ser o mais pirateado do cinema brasileiro, o filme foi acusado de fascista, de estimular da violência policial, unilateral, até de ser de direita (se é que isso é xingamento?!).

Nada disso procede! O que incomodou parte da critica e da "intelectualidade" foi o fato do filme ser direto e de colocar as coisas em seus lugares.

Primeiro, a corrupção policial é bem retratada. Porém, o diretor não se furta a mostrar que existem policiais honestos, caso dos aspirantes Neto e Matias.

Segundo, os bandidos são bandidos, e não bem feitores em busca da terra perfeita. O cinema nacional tem tradição em reproduzir bandidos charmosos, do O Bandido da Luz Vermelha a Carandiru. Não se trata de criar personagens sem profundidade psicológica, de esconder o lado humano do vilão. Mas, sim, de deixar de lado a mania, comum por aqui, de que o meio social é a única força a determinar o destino das pessoas. No mundo real, essa idéia filosófica séria, tornou-se discurso raso que serve apenas para eximir a culpa de criminosos. No mundo das artes, ele chegou à exaustão. A maior prova é o próprio Tropa de Elite, considerado como renovador do gênero.

Fonte. http://www.cinepop.com.br/


Respeito toda opinião favorável a esse filme. Porém, ainda o considero vulgar e apelativo como a maioria das obras nacionais.


Nota do Revolução Acadêmica:
8

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu gostei! Dou nota 10.
Ainda mais com o show de interpretação do Wagner Moura.

;]